História

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O Casarão do Chá foi construído na região de Cocuera, em Mogi das Cruzes, em 1942, pelo arquiteto-carpinteiro Kazuo Hanaoka. Foi erguido para ser uma fábrica, um lugar onde se processavam e embalavam as folhas de chá, e serviu para esta finalidade até o ano de 1968.

Para conhecer esta obra que é considerada patrimônio cultural do Brasil, do Estado de São Paulo e dos cidadãos de Mogi das Cruzes, podemos examiná-la sob dois pontos de vista:

1 – Como um vestígio da presença dos imigrantes japoneses na região

2 – Como uma obra arquitetônica onde se podem ver as técnicas construtivas tradicionais do Japão adaptadas à realidade local

 

VESTÍGIO DA IMIGRAÇÃO JAPONESA

Assim, como parte e como testemunho da presença dos japoneses e de seus descendentes em Mogi das Cruzes, o Casarão do Chá nos ajuda a compreender a história da primeira metade do século XX, quando muitos estrangeiros chegavam ao Estado de São Paulo, estimulados pelo desenvolvimento trazido pela atividade cafeeira.

A vinda de japoneses para o Brasil iniciou-se em 1908. Uma década depois disso começaram a chegar a Mogi das Cruzes, onde cultivavam verduras e frutas. A maior parte dos japoneses que vieram para a região de Mogi nas décadas, de 1920 e 1930, já tinham chegado ao Brasil há algum tempo – muitos deles tinham se encaminhado primeiramente para as plantações de café.

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Fukashi Furihata e sua esposa Fumi Furihata

Fukashi Furihata era um engenheiro agrônomo enviado ao Brasil pela empresa japonesa Sociedade Katakura, em 1922. Alguns anos depois de sua chegada ao país, Furihata comprou uma fazenda de 139 alqueires na região de Cocuera, em Mogi das Cruzes, onde aos poucos implantou o cultivo de frutas, hortaliças e chá.

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K
azuo Hanaoka (à esq.) e família Hanaoka (à dir.)

Kazuo Hanaoka, o construtor do Casarão do Chá, chegou ao Brasil na metade de 1929, com trinta anos de idade. Veio diretamente para as terras da Sociedade Katakura, pois a sua família já era conhecida de Furihata. No Japão, Kazuo Hanaoka tinha se tornado carpinteiro e aprendido as tradicionais técnicas de construção japonesas principalmente com seu pai, embora também tenha feito curso sobre o assunto. Uma de suas mais importantes obras no Japão, antes de emigrar, foi justamente a residência dos Katakura, proprietários da empresa para a qual trabalhava Furihata aqui no
Brasil.

Ao longo da década de 1930, Kazuo Hanaoka trabalhou como agricultor e construtor em algumas localidades paulistas. Em 1941, convidado por Furihata, veio para Cocuera, onde começou trabalhando na colheita do chá.

Nesta altura, as turbulências da Segunda Guerra Mundial tinham ampliado o mercado internacional para a venda do chá produzido no Brasil. Furihata, portanto, pretendia expandir sua produção e, para isso, precisava de instalações maiores e mais apropriadas para o processamento do chá produzido na Fazenda Katakura, então batizado de Chá Tókio. Para abrigar a tal fábrica de chá, durante o ano de 1942, Kazuo Hanaoka construiu a edificação que hoje conhecemos como Casarão do Chá. Em torno dela, existiam plantações de chá.

A Segunda Guerra Mundial terminou em 1945 e em seguida o mercado internacional começou a se fechar para os produtos oriundos do Brasil. No final desta década e na próxima, Fukashi Furihata já arrendava porções cada vez maiores da Fazenda Katakura. Em 1958 a família Namie adquiriu a parte da fazenda que incluía a fábrica e as plantações de chá. Mantiveram o cultivo e o processamento do chá até 1968, quando a fábrica foi desativada e o prédio passou a ser usado como depósito.

 

OBRA ARQUITETÔNICA ONDE SE PODEM VER AS TÉCNICAS CONSTRUTIVAS TRADICIONAIS DO JAPÃO APLICADAS À REALIDADE LOCAL

Há diversas características nesta edificação que a tornam valiosa e que fazem de sua visita uma experiência muito interessante. Vamos listar alguns desses atributos:

  • Diferente do que costumamos ver na arquitetura ocidental, o Casarão do Chá é uma edificação que foi projetada e construída pela mesma pessoa, o arquiteto e carpinteiro Kazuo Hanaoka (com a ajuda de três assistentes);
  • A estrutura da edificação foi feita em madeira e composta primeiramente numa armação à qual, posteriormente, se acrescentaram paredes feitas em taipa de mão;
  • Hanaoka recorreu ao que estava disponível na região: as árvores de eucalipto, as telhas “francesas” e as esquadrias para janelas;
  • A técnica de taipa de mão já era usada no território brasileiro, mas aqui foi realizada em bambu e com diversas camadas de barro, de modo a gerar paredes mais resistentes;
  • Como nas construções japonesas, as madeiras se juntam por encaixes, sem prego ou massa;
  • A edificação destinava-se a abrigar um local de trabalho, uma “fábrica” onde se processavam as folhas de chá.

 

CRONOLOGIA

1922 Vinda do engenheiro agrônomo Fukashi Furihata ao Brasil
15 de Agosto de 1925 Registrada a residência de Fukashi Furihata, com sete dormitórios, um quarto de banho, cozinha, etc. Furihata residiu neste local entre 1926 e 1958. Hoje, este local é a atual casa-sede.
18 de Agosto de 1926 A Sociedade Katakura Gomei Kaisha, representada por Fukashi Furihata, adquire a Fazenda Cocuera, de 139 alqueires, do Major Antônio de Souza Mello. A fazenda passa a ser uma propriedade Katakura.
01 de Junho de 1929 Vinda do arquiteto-carpinteiro Kazuo Hanaoka ao Brasil.
1930 Na propriedade Katakura, a atividade principal deixa de ser a produção de frutas e hortaliças e passa a ser o beneficiamento de chá.
1939 Com o início da Segunda Guerra Mundial, a Índia deixa de ser um dos principais exportadores de chá no mundo, favorecendo o mercado brasileiro.
1942 Elaboração e execução do projeto da Fábrica de Chá Tókio por Hanaoka, baseado no programa de uso estabelecido por Furihata. A construção da fábrica futuramente se tornaria o Casarão do Chá.
1945 Com o término da Segunda Guerra Mundial e a recuperação dos fornecedores tradicionais, inicia a decadência da exportação do chá brasileiro.
29 de Julho de 1958 Arizo Namie adquire uma área de 15,8 alqueires da Sociedade Katakura, na qual se localiza o Casarão.
28 de Fevereiro de 1967 Namie transmite a área do Casarão a seu filho Sethiro Namie.
1968 Fim da produção de beneficiamento do chá na Fábrica de Chá Tókio. O edifício passa a ser usado como depósito, e com o tempo entra em abandono e desgaste natural.
1982 Tombamento do edifício a nível estadual pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). Este tombamento reconhece o Casarão como um bem de valor histórico, arquitetônico e cultural, digno de cuidados especiais.
1984 Publicação do livro “Casarão do Chá” pelo CONDEPHAAT, escrito pela historiadora Celina Kuniyoshi e o arquiteto Walter Pires. Trata-se de um estudo de tombamento que viria a reconhecer a representatividade histórica do Casarão.
1986 Tombamento a nível federal pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional).
Construção do muro de arrimo pelo IPHAN.
08 de Maio de 1986 Constituição da Comissão Especial junto ao Gabinete do Prefeito (Antonio Carlos Machado Teixeira) com a finalidade de arrecadar recursos para aquisição do imóvel Casarão do Chá.
20 de Fevereiro de 1987 A Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes adquire do vereador Sethiro Namie um terreno de 6.654,17 m² onde se encontra o Casarão.
Setembro a Novembro de 1992 Reconstrução da parede de pau-a-pique ruída, substituição de batentes, pintura das paredes externas, etc. Obra realizada pela firma Carpintel Marcenaria e Comércio, solicitada pelo IPHAN
19 de Outubro de 1996 Fundada a Associação Casarão do Chá.
03 de Novembro de 1997 Mediante a negociação entre a Associação e a Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes, o direito de uso do imóvel Casarão do Chá é cedido pelo período de 20 anos à Associação.
1998 O Ministério da Cultura, através do Fundo nacional da Cultura, aprova o restauro emergencial das partes em situação crítica no valor de total de R$87.500,00.
30 de Junho de 1998 O professor doutor Kunikazu Ueno dá início ao levantamento métrico-arquitetônico e característico do Casarão para efeito de restauro.
1999 A Associação Casarão do Chá adquire de Yasuaki Shimano um terreno de 2 hectares anexo ao terreno do Casarão.
2001 O Mistério da Cultura, através do Fundo Nacional da Cultura, aprova a construção da cobertura provisória no valor total de R$85.150,00.
2003 A Associação instala uma oficina de cerâmica no espaço do Casarão do Chá, visando estabelecer um centro de integração cultural.
26 de Outubro de 2003 A Associação em parceria com a Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes inaugura a Biblioteca Comunitária e oferece aulas gratuitas de cerâmica para crianças da região.
2005 O Mistério da Cultura, através do Fundo Nacional da Cultura, aprova a 1ª etapa da Restauração do Casarão do Chá no valor total de R$ 270.096,39.
08 de Setembro de 2009 O IPHAN aprova a 2ª etapa da Restauração do Casarão do Chá no valor total de R$ 277.887,52.
2010 A Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, através do ProAC-ICMS, com patrocínio da GERDAU AÇOS ESPECIAIS, aprova a 3ª etapa da Restauração do Casarão do Chá no valor total de R$599.893,35.