Casarão do Chá

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O Casarão do Chá de Mogi das Cruzes foi originalmente uma fábrica de chá, projetada e construída em 1942 pelo arquiteto e carpinteiro japonês Kazuo Hanaoka. Por quase três décadas, este edifício abrigou uma linha de produção de chá preto para exportação,  empregando imigrantes japoneses. Com as dificuldades do mercado de exportação de chá no Brasil, a fábrica encerrou suas atividades e se tornou um depósito, e com o passar dos anos se desgastou naturalmente.

Ao reconhecer o Casarão por seu simbolismo e por sua história, um grupo nipo-brasileiro da região de Mogi das Cruzes se prontificou a resgatar e preservar este espaço. Hoje, o Casarão do Chá é um patrimônio cultural nacional, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT). Ele foi restaurado com o apoio dos governos federal, estadual e municipal, com patrocínios e com o esforço da comunidade local, e se transformou em centro histórico e cultural.

O Casarão do Chá é uma construção única no país. Segundo o professor doutor Kunikazu Ueno, responsável pelo parecer técnico emitido para efeito de restauração do Casarão em 1998:

O aspecto mais interessante deste edifício é que o carpinteiro Hanaoka o construiu de acordo basicamente com o conceito tradicional japonês, exceto pelo emprego de treliças no lugar de vigas horizontais. Tal estrutura mista só é possível considerando-se que o carpinteiro dominava tanto o sistema construtivo japonês como o europeu, do qual tinha provavelmente noções elementares. A ideia do carpinteiro de mesclar os dois conceitos estruturais é única, e pode ser fruto da cultura de imigração, admitindo-se tal conceito. Creio que existem vários tipos de cultura de imigração no Brasil, e que o Casarão do Chá é um edifício típico do contato entre o Japão e o Brasil.

Podemos encontrar no pórtico de entrada do edifício o estilo de telhado chamado “kara-hafu”, que não é necessariamente específico das fábricas de chá, mas que foi empregado por Hanaoka no Casarão. Os telhados “kara-hafu” são comuns no Japão, e provavelmente Hanaoka o adotou para mostrar a sua maestria e habilidade.

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Telhados Kara-hafu e Irimoya no Casarão do Chá)

“Irimoya” é um formato de telhado muito usual no Japão e na Ásia oriental, mas raro na Europa e também no Brasil. Hanaoka empregou este tipo de telhado, assim como o “ougi-daruki”, nos beirais superiores da entrada. O “ougi-daruki” é uma das características do estilo Zen no Japão, ou seja, os cachorros de beiral não são paralelos, mas sim dispostos como as varetas de um leque japonês.

Na estrutura do pórtico de entrada, da porta do Escritório e no corrimão da escada, Hanaoka empregou troncos de árvores no seu formato original. As formas orgânicas das madeiras são características do Casarão, e parece que Hanaoka orgulhava-se do efeito plástico obtido através do emprego das madeiras no seu estado natural. Seu desenho aparecia nos edifícios, quando Hanaoka conseguia convencer os clientes do custo adicional que esse desenho acarretava.

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(Detalhe do pórtico de entrada do Casarão. Foto: Marcelo Tanami)

Hanaoka utilizou eucaliptos para confeccionar a estrutura de madeira. No Brasil, este tipo de madeira não é empregado com frequência na construção civil, pelo fato de ser dura e de difícil corte, e portanto desfavorável à confecção de juntas e encaixes. Todavia, esta árvore cresce aprumada e sua madeira é resistente o suficiente para trabalhar estruturalmente. Portanto é uma boa madeira para as estruturas de edificações, desde que o carpinteiro não se importe de confeccionar os encaixes.

 

(Trecho extraído do relatório “Casarão do Chá”, apresentado à Fundação Japão de São Paulo pelo profº dr. Kunikazu Ueno. Tradução para o português por Lia Mayumi, Julho de 1999)

O Casarão do Chá é hoje administrado pela Associação Casarão do Chá, que requereu e acompanhou todo o processo de restauração. Veja o vídeo publicado em 31/05/2014 pelo jornal Estado de São Paulo, na véspera da reabertura do Casarão, e entenda um pouco mais o que é o Casarão do Chá: